O Menino e Seu Brinquedo

Monday, January 30, 2006

O Xale de Penélope

Admito. Tenho uma birra descomunal do Odisseu, a.k.a. Ulisses, aquele Rei de Ítaca que deixou para trás sua bela esposa e filho pequeno para brincar de guerra ao lado de Agamenon e Aquiles.
Tudo por causa duma mocinha chamada Helena, que aventureira como só ela, deixou o marido certinho (e provavelmente chato) para rolar na relva com um outro príncipe bonitão chamado Paris.
Anyway, mantenha o foco, Regina...
Acontece que Odisseu foi embora, que nem aqueles maridos malandros de anedota (ou como o Renan, irmão da Aline), que saiam pra comprar cigarro e diziam que voltavam já.
Para o Odisseu, "já" significava dali a 10 anos.
Enquanto o moço se aventurava com Circe, sereias, matava cíclopes e mais um monte de coisas absurdas que ele deve ter inventado para escapar de encontrar a Lorena Bobbit no lugar da Penélope, esta última, distinta senhora da sociedade, conhecedora de seu papel e de seus deveres (pfuaah), ficou em casa, tecendo e desmanchando um xale, com a finalidade de enganar os dois neurônios de seus pretendentes. Que, by the way, estavam mais interessados em se tornar soberanos de Ítaca.
Penso que, algumas vezes, ela deve ter pego os fios e se imaginado apertando-os lentamente em torno do pescoço do Odisseu.
Em outros dias, ela deve ter se imaginado abrindo o xale para recebê-lo.
Deve ter colocado em cada elo feito e desfeito à exaustão, uma prece para receber uma notícia. Qualquer notícia.
E, então, um dia, todo acreditando que era direito seu retornar, quando provavelmente ela já tinha se acostumado a dormir sozinha, ou já devia ter um amante, Odisseu retornou à ilha de Ítaca.
E ela, boazinha, o aceitou de volta.
Agora, me diz... Se fosse Odisseu no lugar de Penélope. Teria esperado?

O Tempo Pediu Ao Tempo...

Que o tempo o tempo lhe desse, para fazer, com o tempo, tudo que o tempo quisesse.
Essa trova cigana não me saiu da cabeça na semana que passou.
Como diz meu pai, nunca é muito tempo.
E eu, que achava que nunca mais ouviria falar de uma pessoa que me foi muito cara ao coração (e que posteriormente, como é de praxe, foi o significado da dor para mim), estava muitas vezes enganada.
Eu que jurava que nunca mais procuraria saber dele, fui atrás de saber, sim.
E, surpresa, surpresa, ele me respondeu.
Foi gentil. E com a falta de tato que lhe é comum, até mencionou as dores.
Não há nada mais surpreendente que o ser humano.
N'est pa?




Saturday, January 21, 2006

Levante

Eatava na Simples de outubro/novembro de 2005, sob forma de que?, editorial? definir matérias de revista de conceito é sempre complicado.
Mas estava na Simples, o Levante.
E as perguntas.
O que te move?
Me move o Poder. O Poder-verbo, o universo de possibilidades infinitas.
Poder fazer, poder criar.
O Poder substantivo apela, brilha, inebria, mas é ilusão. Tem seus alicerces construídos sobre a ilusão de ser superior aos mortais à sua volta, maior que a ética. A frase do Poder-substantivo para mim é Você sabe com quem está falando?
Minha resposta: Não sei. E nem estou interessada.
Você realmente conhece as pessoas com quem se relaciona?
Você realmente se conhece?
As pessoas são, assim. Um mistério. Por mais francas e diretas que sejam.
Em quem você confia?
Lembrei daquela piada do Salim... Num confia nem babai... Hahahahaha
Eu confio em raras e seletas pessoas. Às vezes confio em gente a quem não faço confidências.
Morreria por uma causa ou por alguém?
Morreria pelos meus amores, meus amados. Não estou falando de homens, paixões. Estou falando das pessoas que amo. Por quem morreria ou mataria.
O Cazuza clamava por ideologia. Não existe uma causa, da forma como eu enxergo o mundo, que valha a minha vida.
O Sebastién Charles comenta isso em Os Tempos Hipermodernos, quando fala que a eleição do George W. Bush não causou nenhum levante sangrento, embora o mundo tenha ficado irremediavelmente indignado. E, mesmo assim, o camarada foi reeleito.
Ganhando eleição no grito, tirando uma guerra da cartola, invadindo e dominando países, subjugando culturas.
Quem é o terrorista?
Observação: não sou pró-Saddam, não sou a favor de ataques terroristas e tenho minhas opiniões sobre o que acontece no Oriente Médio. Não sou anti-americana, também. Mas sou, antes de mais nada a favor da vida e das diferenças e da liberdade. Sou contra a dominação. Sou contra o uso da violência.
Não acho que toda forma de acabar com um regime totalitário é válida.
Enfim...
Deixaria uma pessoa te controlar?
As pessoas tentam, algumas conseguem.
Mas o ser humano é pródigo em artifícios para burlar a vigilância. Criativo até não mais poder.
O que é este controle?
Defina controle.
Acredita no amor?
O amor é assim, como D'us.
Ninguém vê ou pode tocar, e se você tem fé nele (ou nEle), ninguém tira isso de você.
E, assim como com D'us, estou me reconciliando com o amor.
Já encontrou o que procurava?
Ahá!
Essa é importante.
Foi meu presente de Ano Novo. A esperança de encontrar o que procuro.
O desejo desse encontro.
Mas isso é especial, porque é necessário ousar procurar.
Não encontrei ainda, by the way.
Está mesmo contente com o mundo?
Não.
E não estar contente me faz lutar para fazer deste mundo um lugar melhor.
Começando de dentro pra fora, da porta da minha casa para a rua, do meu bairro para a minha cidade.
Qual é o seu protesto?
All We Are Saying Is Give Peace A Chance! (John Lennon)
e
Love Will Find A Way... (Yes)


Leituras

Continuo "casada" com Os Tempos Hipermodernos (Gilles Lipovetsky com Sebastien Charles) e Fetiche- Moda, Poder e Sedução (Valerie Steele).
O segundo fala dessas relações do ser humano e sua sexualidade e o transporte da sexualidade para a indumentária. Muito menos uma história da indumentária fetichista que uma história dos relatos dos fetiches, até o momento.
E o primeiro é infinitamente bom. Esses franceses - ulalá!- fazem pontes interessantíssimas.
Usando o Lipovetsky, Sebastien Charles, na primeira parte do livro, fala da sociedade de consumo e do tempo mais rápido que o tempo.
Fala também da mudança dos valores, da liberdade sexual e linka tudo isso com os movimentos do Sistema de Moda descritos pelo Lipovetsky em O Império do Efêmero.
Ah, sim! Leitura paralela obrigatória: Notícias sobre o SPFW.
Ontem vi no GNT o desfile da Neon.Grandes formas, grandes estampas, grandes estampas. É Alegria Alegria! de novo, ao som de Doors.
N'est pa?

No CD Player

Valentine de Maurice Chevalier e High Society Calypso, do Louis Armstrong.

Namaste!

Monday, January 16, 2006

We Could Be Heroes

Outro dia, no Ibotirama, também conhecido como Bar Verde, ali na Augusta, comprei um ímã de geladeira para a minha mãe, que diz algo assim:
Mães! Nem todos os superheróis usam capas
.Foi um agradinho, uma puxa-saquice, um reconhecimento. Porque só eu sei o quanto eu precisei dessa pessoa incrível nestas últimas festas. A falta que ela me fez e como era bom quando ela me ligava - todo dia.
Religiosamente.
Mas, não é sobre a minha mãe.
Algumas pessoas vivem de maneira heróica, sem ter que usar capa, máscara. Sem salvar vidas todos os dias.
Na atualidade, meu tio Tatau mora em minha casa.
Meu tio é aposentado, fuma e bebe e dá risada. Adora uma piada sacana e de vez em quando solta aquelas observações que me fazem querer colocá-lo de castigo.
Adora uma observação polêmica, sabe? Colocar fogo na discussão?
Mora também o filho dele, meu primo.
Bruno tem a minha idade e não consegue se comunicar com o mundo. Tem necessidades especiais. Toma remédios fortíssimos. Não fala uma frase inteira. Nem uma palavra inteira. Às vezes fica agressivo com meu tio.
Meu tio, dia após dia, sorri.
Inventa brincadeiras para o Brunão. Caminha horas e horas com o filho. Releva suas manias.
E ama aquele que ele denomina de Minha Divina Cruz.

Guantanamera

No CD Player: Buena Vista Social Club - ainda.

High Society Calypso

A boa do fim de semana!
Bar do Doca. Também conhecido como Papo, Pinga e Petisco.
Tomei um Dry Martini, beeeeeeeeeem dry... Comme il faut.

Black And Blue

Não é assim, muito fácil falar de "gostares". Não é fácil falar do que eu desejo.
Mesmo porque, a pilha de stress à minha volta me tem deixado morta para as coisas do coração.
Alguém se habilita?

Monday, January 09, 2006

O Meu É Sem Paixão, Por Favor

Depois do Odisseu, de toda aquela dor e decepção, decidi que não podia mais.
Não queria mais me apaixonar e só vivia para a melhor parte.
Uma verdadeira Party Girl. Sabe como?
Sexo e rock n' roll, sem envolvimento. Carinho, até pode ser, mas paixão, aquele enlevo, borboletas no estômago, corações voando em volta de mim?
Ah, isso não!
Só que "a gente nunca sabe de quem vai gostar", sabe menos ainda quando vai gostar de alguém.
E a Party Girl continuou se jogando.
E nessa vida sem paixão, percebi que andava tudo muito chato. Muito de papelão e tinta, nada era de verdade.
Era tudo um emaranhado de rostos e corpos, e na maior parte das vezes, eu estava bem perto de "não estar lá".
É um saco isso!
Eu quero estar lá! Eu quero paixão, peixes voadores, borboletas enlouquecidas, mariposas tecnicolor, corações e estrelinhas!
Um pouco de romance não me fará mal. Foi nisso que eu andei pensando.
Tá certo que eu demoro um pouco pra acreditar nos outros e meu forte não é correr riscos.
Mas... não seria bom mudar?


E por falar em mudanças

Hoje retornarei ao estado moreno de ser eu mesma.

No CD Player

Duke Ellington - Just Squeeze Me But Please Don't Tease Me

Namaste umetuká

Friday, January 06, 2006

Num novo lar

Mudar de casa é assim.
O endereço muda, mas alguns móveis são os mesmos.
No caso do blog, o endereço mudou. Foi uma contingência, não foi por minha vontade.
O título, contudo, permanece.
Uma breve apresentação se faz necessária, para aqueles que chegam aqui desavisados.
Eu e Cristina somos co-autoras (co-escritoras, co-cronistas?) do www.onovohmem.blig.ig.com.br. Os arquivos continuarão lá.
Tudo começou com uma discussão sobre o homem contemporâneo, flanou sobre a mulher contemporânea e pousou no terreno nada firme das relações entre humanóides contemporâneos.
De vez em sempre a gente comenta uns shows, eventos, filmes e little pleasure islands.
Encontros, desencontros, reencontros, destino, fatalidade, futilidades, enfim, um universo de coisas terrivelmente deliciosas de viver. Tudo isso também é bom de comentar.
Falamos de Moda. Porque vivemos de Moda.
De verdade, este é o nosso ganha-martini-cigarro-chiclete-café-e-sapatos!
Falamos de sexo, de amor, paixão, ciúmes, traição, pretendentes, pretendidos, enfim, dessa estranha mania de querer estar com o outro.
Bem vindo!
Sinta-se à vontade, mas a regra continua sendo a mesma:
O primeiro a aprontar, veste a roupa e vai embora!

Namaste!