O Menino e Seu Brinquedo

Friday, March 31, 2006

Milagre

Ontem fui ver a palestra do Tadashi Endo na Fundação Japão.
Pra variar, só um pouquiiiinho... cheguei atrasada. Fato incontestável que detesto me atrasar. Fata mais incontestável ainda que ultimamente a culpa por me atrasar tem me consumido muito menos.
Bom, Tadashi Endo é um mestre de Butô - dança anti-dança japonesa. Nada que se pareça muito com o tradicional, mas bebe da mesma fonte.
É lindo, mais espontâneo, feito de torções.
E o que é mais maravilhoso que dançar em busca de um mundo interior melhor?
Butô, como o balé também, não promete salvar o mundo, mas deseja transformar a sua forma de sentir o mundo.
Ao fim da palestra, Endo-san respondeu perguntas, e, ele se comunica belamente.
Além de adorar mandioquinha.
Vou citar uma coisa linda que ele disse, não word-by-word, porque a memória não é tanta.
Eu nasci em Pequim, fui criança no Japão e moro mais da metade da minha vida na Alemanhae hoje estou em São Paulo.
Você nasceu num lugar, cresceu em outro, mora em outro e hoje veio à Fundação Japão.
Até 5 minutos atrás você não existia para mim. Nós estarmos aqui hoje é um milagre, nada pode dar errado num encontro como este.


Namaste

Monday, March 20, 2006

Ser como o Sabra

Sempre vivi o embate interno.
A vida inteira fui insanamente sensata, delicadamente rude, uma cientista emocional.
Algo assim, freaky, como uma virginiana com ascendente em Peixes.
É. E isso também é verdade.
E, o que me acontece é que estou vivendo outro tipo de embate interno, em que emoção e razão tentam, cada uma a seu modo, com seus argumentos super válidos, ganhar a briga.
Na verdade, emoção e razão querem a mesma coisa.
Em mim.
Por sinal, estou falando de mim. Só de mim.
Não vou generalizar, não estou com vontade hoje de escrever uma tese sobre o estranho comportamento dos humanóides em geral.
Só o meu.
Sou eu que estou, racionalmente negando o que o "meu cálice transborda" de saber.
Mas a emoção, que é meio recém-nascida, não sabe bem como se revelar.
Tenho vivido o pânico deste sentimento, e tentando deixar que a censura e o medo do que pode ser não aconteçam.
Que o seu afeto me afetou é fato, agora faça-me o favor.
Por favor.
E, agora, além do embate interno, tenho que bancar uma Penélope e esperar uma resposta.
Pra uma pergunta que eu não fiz.
E por que ser como o sabra?
Porque tenho me descoberto muito mais próxima desta imagem, hoje.
O sabra é o fruto/folha de um cacto que, embora não seja originário da Palestina/Israel, é muito comum lá.
O sabra é duro e espinhento por fora, mas doce e suculento quando você tira a casca.
Apesar da minha relutância, minha casca tem sido retirada às vezes...
E muita gente (e muita gente quer dizer um alguém específico) tem se mostrado um pouco sabra também.
Se eu tivesse um diário, daqueles de papel, pode crer que eu teria colado a intenção da flor nele.

Namaste

Sunday, March 19, 2006

Vai entender...

Acordei com uma daquelas dores de cabeça.
Pra isso só tem um remédio: fingir que não está acontecendo.
Isso e ficar ouvindo jazz sem parar.
Every Time We Say Goodbye...
Puta merda porque tem que ser tão deprimente, tão rasgado, tão classudamente sofrido e apaixonado?
Aquela sensação, aquele enjôo e a respiração cortada, tudo de novo, ai que droga, que vontade de rasgar as vestes e gritar!
E, ainda assim, estou me sentindo bem como se tivesse um milhão de dólares!

Namaste umetuká!

Saturday, March 18, 2006

Você, que pendurou a lua no céu pra me brindar à beira da piscina.
Você, que molhou meus olhos e secou minha boca.
Você, que me confundiu, inquiriu e não respondeu.
Você.

Monday, March 06, 2006

O último post foi um desabafo.
Sabe como?
Aquela vontade de jogar tudo no chão e gritar até as cordas vocais se arrebentarem?
Pois é. Ando assim, meio revoltada com a vida corporativa.
Cansada de não dar uma atençãozinha maior aos meus desejos, às minhas demandas.
De trabalhar tanto, mas tanto mesmo que não tenho tempo nem de me olhar no espelho. E quando tenho tempo, não quero.
Mas a vida não tem sido só isso. Claro.
Existem os momentos deliciosos em que me emaranho em conversas que nada têm a ver com o mundo lá fora. Como bons intelectuais, conversamos sobre a universalidade do ser. Sobre o nada e sobre aTeoria do Caos.
Comme il faut.
E é claro que é muito melhor do que falar dessas banalidades que nada me atraem, como faturamento anual, prazos de entrega, se o tecido chegou ou se o pedido foi devolvido.
Que businesswoman que nada!
Senhoras e senhores, eu sou uma artista.

Desconfiômetro - Opcional?

É REALMENTE muito difícil assim.
Ok que tem muita gente sem noção no mundo. E quando o sem noção paga o seu salário fica um pouco mais fácil o cara achar que é proprietário da sua vida.
Filhão, eu digo, meu dia é da sua empresa, de segunda a quinta das 9 às 6 (o que é uma mentira, porque eu chego sempre muito antes das nove) e às sextas, das 9 às 5.
E não se fala mais nisso. Não é?
Eh... Não.
Começa que eu tenho trabalhado aos sábados, o que é contrário à Natureza.
Sábado é o Dia do Senhor - ai se eu fosse religiosa... - e é dia de terapia.
Mas eu tenho trabalhado aos sábados. Brincadeira encerrada no último sábado, em que, novamente eu trabalhei cornamente sem receber um puto, e sem a perspectiva de ver este dinheiro um dia chegar à minha estuprada conta bancária.
Aí, ok, o consultor da empresa - quando eu crescer, eu também quero ser consultora - teve a ótima idéia de fazer reuniões semanais entre os líderes dos setores.
Ótima mesmo! Estávamos precisando destes momentos maravilhosos em que todo mundo é polido e político, ou não, só quer jogar lama na cara dos outros. Mas como eu faço meu trabalho da melhor maneira possível, de acordo com o que me cedem para realizar meu trabalho, e ainda dou suporte aos outros setores (sim, sim... o setor papel higiênico, senhoras e senhores!), não tenho apanhado muito, não.
Mas aí, que o cara resolve marcar as belas reuniões às segundas-feiras, às 8 da manhã.
Ok, beleza.
Chego cedo na segunda, saio cedo também.
Certo?
Certíssimo.
Mas não é que a amnésia seletiva daquele senhorzinho tem tomado conta e ele acabou de achar péssimo que eu não estou na fábrica dele depois das cinco da tarde?
AFF!
Para quem tem acompanhado, esse mosquitinho só me faz engasgar, perto dos elefantes vestidos de rena que eu fui obrigada a engolir.
E o camaradinha ainda é capaz de questionar meu comprometimento com a empresa.
Eu, a pessoa que perde o sono, que quebra a cabeça. Que leva xingamento, que deixa de almoçar, que pede desculpas pelos surtos psicóticos de uns e outros.
Eu não sou comprometida.
Pode?
Paciência.
Dai-me paciência. Porque se me der força...

Sunday, March 05, 2006

" Tita soube na própria carne por que o contato com o fogo altera os elementos, por que um pedaço de massa se converte em torta, por que um peito sem ter passado pelo fogo do amor é um peito inerte, um bocado de massa sem nenhuma utilidade."
Como Água Para Chocolate - Laura Esquivel

Wednesday, March 01, 2006

Sabe o que eu adoro na Preciosa (Rosane Preciosa Sequeira - professora da faculdade, de Moda Contemporânea, Pesquisa Criação e Estilo y otras cositas más)?
A provocação.
Com a voz doce e carisma sooo very precious, ela sempre nos convida ao questionamento. Primeiro, quando ensinava Moda Contemporânea, nos trazia subsídios para entender o que fez uma sociedade com uma estrutura totalmente estanque entrar em conflito, desarmonizar, encontrar o caminho para extravasar a insatisfação abafada com o vigente.
Enfim, agora em vias de concluir o curso, ela nos convida a discorrer sobre nossas Afinidades Eletivas (os couturiers com os quais nos identificamos), e aí, me vem um nozinho, porque tem Yohji Yamamoto conversando com Adriana Barra na minha sala de estar mental.
No segundo momento, falamos de Processo Criativo.
Como criar? O que é criar? Como transformar idéias em algo material?
De onde vêm as idéias?
Pra mim o processo criativo vem da inquietação. Dum incômodo que me faz ter vontade de entortar os quadros da parede.
Inventar jeitos novos de oferecer ao mundo a minha visão.
Descobrir formar novas de ver o mundo.
Brincando de arquiteta, é como mudar o observador de lugar e deixar que todo o desenho mude.
Ficar inquieta é uma delícia, é o meu combustível.
É, eu sou mesmo um pouco insana.